quinta-feira, 21 de julho de 2011

A mão no feijão


Não só porque quando nos deslocávamos ao Porto era um verdadeiro evento, mas também porque adorava lá ir.

Ainda tenho a memória olfactiva dos cheiros exóticos da mercearia que tinha tudo o que as outras não tinham, e ainda hoje é assim. Cheiros vindos de outros lados do mundo.

Quando entrava, e ainda hoje é assim, tinha vários sacos gigantes de feijão. Quando a minha mãe me dizia que vinhamos ao Porto a primeira sensação que tinha na minha mente era de enterrar a mão nesse feijão e deixar que cada grão passasse pelos meus pequenos dedos (ainda hoje pequenos). Recordo que fechava os olhos e desaparecia daquele locar e, quando os abria tinha o Sr. Luís, gerente da mercearia, a sorrir para mim. Talvez não seria a única pessoa a fazê-lo.

A sensação que tinha era que deixava de pensar e ficava ali a retirar mais partido das minhas percepções tácteis. Dizem hoje, que as crianças têm muito para nos ensinar e isto é uma dessas coisas.

Tive a lembrança desta sensação enquanto estávamos a preparar uma das vivências do curso ‘Desperte os Sentidos’ em que estas sensações são desenvolvidas.

Para perceber e vivênciar mais do toque das suas mãos, até ao final da semana na mesa da cozinha vai estar um pirex cheio de pequenos grãos, para que feche os olhos e enterre as suas mãos e perceba até onde as subtilezas das sensações o podem levar.

Hoje quando entro na Casa Chinesa os mesmos sacos estão lá e, como se ninguém estivesse à minha volta e a idade não importasse volto a enterrar a minha mão nessa sensação ináudita de prazer, ainda hoje assim é.

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