segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Silêncio


O que existe de mais lindo está tão forte diante de nossos olhos que já esquecemos de admirá-lo.
E esse esquecimento é fortalecido com uma educação repressora que diminui a capacidade das pessoas de serem elas mesmas. Nela é-nos dado um conjunto de normas e regras que têm como objetivo tornar-nos o mais iguais possível.

Quando uma criança está no chão com os pés afastados, lá vem a mãe diz: - Fecha as pernas, porque é feio! Menina bonita não senta assim. - E já começa a perder-se a flexibilidade. E depois o pequeno fica no sofá com a cabeça para baixo: - Sai daí, moleque, pois isso faz mal!

Depois ensinam que meninas brincam disso e meninos daquilo. E mostra-se que tocar as pessoas é feio e explorar o corpo é inaceitável. Abraçar e beijar pessoas só é conveniente em ocasiões especiais. Se amar de verdade, tem-se que fazer tais e tais procedimentos.

Aos poucos todos sabem que no inverno só se deve usar roupas escuras e que filmes bons são os de Hollywood.

Isso cria gente mecanizada, sem capacidade consciente de escolha.
Nesse processo todo aprendemos que temos que olhar apenas para fora. Que todas as informações são recebidas de fora para dentro.
E dizem que tudo o que falamos tem que ter fonte e perguntam: Onde leu isso? Quem lhe falou? De onde tirou isso?

É ensinado que temos que ignorar nosso corpo, a não ser em caso de doença e que ideias que nos surgem sem terem sido pensadas são bobagens sem sentido.

Em resumo. Aprendemos a dispersar.

Esse conjunto todo afasta-nos de nosso silêncio interno, de nossa essência. Deixa-nos distantes de verdades e percepções que vibram dentro de nós todo o tempo até que não mais as ouçamos.

E a liberdade que nos é ofertada ao nascermos vira algo relegado ao mundo dos sonhos.
Com todos nessa programação é mais fácil vender discos, fazer programas de tv e, num desdobramento, eleger políticos que sabem o que falar para convencer uma massa que tenha os mesmos gostos, as mesmas aspirações e anseios.

E como forma de nos libertarmos disso, podemos simplesmente ficar quietos.

Quando foi a última vez que passou algum tempo consigo? A prestar atenção na respiração, a sentir seus músculos? A ouvir seu próprio silêncio?
Quando nos concentramos e nos aquietamos, nossa consciência se expande de forma a ampliar nosso contato com nós mesmos.

Esse silêncio revela-se uma fonte de descobertas incríveis.

Entre elas a de que nós somos seres diferentes dos demais.

A levar-se em conta as infinitas formas de se fazer filme, os diferentes estilos de música e cores de roupas, deveria ser surpreendente que encontrássemos alguém com os mesmos gostos.
O silenciar pode ser libertador, aprazível e pleno de belezas e autoconhecimento.

Para evoluirmos, em alguns momentos, temos que seguir o caminho contrário ao usual. Isso não quer dizer tornarmo-nos esquizóides ou alienados. Quer dizer sairmos da apatia imposta pelo cotidiano (quotidiano deste lado do oceano, mas eu manteria a grafia porque tens outras sugestões que denunciam que vens do Brasil!).

Ao invés de respirarmos mal, temos que respirar amplamente. Ao invés de usarmos pobremente nosso corpo, temos que explorar suas possibilidades. Ao invés de ignorarmos nossas emoções temos que aprender a canalizá-las para nosso melhor relacionamento com o universo.

E ainda mais:

Trocar multidões pela solitude. No lugar de movimento temos que conquistar a imobilidade. E ao invés de percebermos cada vez menos o que acontece: iluminamos nossa consciência.

Não acredite no que vem de fora para dentro a não ser que isso encontre um eco em seu interior.

Dispa-se de condicionamentos, verdades inabaláveis e pensamentos que não podem ser questionados.

E se descobrir que ser você mesmo é passar o domingo no shopping isso não é um problema. Vai ter a liberdade de fazer o que todos fazem mas não por hipnose e sim, por uma manifestação do seu eu.

Ao questionar-se conquista-se aprimoramento.

E mesmo que depois decida continuar a fazer exatamente da mesma forma fá-lo-á com mais determinação, com mais alegria e com mais certeza. E ganha beleza, encanto e vida até nos seus atos mais simples.

Um " bom dia " desejado a alguém passa a ter um valor tocante pela intensidade e verdade contidas nele.

Ganha um poder de transformar tudo a sua volta a partir da transformação de si.

Inclui-se uma filosofia no cotidiano, um ponto de vista que o liberta dos paradigmas que prendem e atrasam a humanidade. E com tal força torna-se um agente modificador de si mesmo e da história da civilização.

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