sexta-feira, 23 de maio de 2014

"(...) A familiaridade prolongada entre alimentos e os seus consumidores conduz à formação de elaborados sistemas de comunicação nos sentidos ascendentes e descendentes da cadeia alimentar, para que um determinado ser passe a reconhecer sensorialmente os alimentos como adequados, de acordo com o seu sabor, cheiro e cor. Estes sinais são frequentemente "enviados" pelos próprios alimentos, que poderão ter os seus motivos para querer ser comidos. O grau de maturidade da fruta é muitas vezes indicado por um cheiro (um aroma apelativo que pode percorrer longas distâncias), cor (uma cor que se destaque do verde) ou sabor (tipicamente doce) distintivos. A planta encontra-se madura quando as suas sementes estão prontas a geminar, e este momento costuma coincidir com a maior concentração de nutrientes num fruto, pelo que os interesses da planta (de transporte) coincidem com os interesses de quem vai comê-la (de nutrição). O nosso corpo, quando recebe esses sinais e determina que o fruto é bom para comer, produz antecipadamente as enzimas e os ácidos necessários para o decompor. A saúde depende em grande medida de saber ler tais sinais biológicos. (...) Isto parece muito mais fácil de fazer quando se tem uma longa experiência com o alimento e muito mais difícil quando um alimento foi expressamente concebido para nos enganar os sentidos com, digamos, sabores artificiais ou adoçantes sintéticos. Os alimentos que nos mentem aos sentidos são um dos elementos mais desafiantes da dieta ocidental."

Extraído do livro "Em defesa da comida"
Michael Pollan


Sem comentários: