"A teoria da “Síndrome da Felicidade” baseia-se no fato
de que o ser humano é um animal em transição evolutiva e que, nos seus milhões
de anos de evolução, somente há uns míseros dez mil anos começou a construir
aquilo que viria a ser a civilização. E só nos últimos séculos, sentiu o gosto
amargo das restrições impostas como tributo dessa aventura.
Como animais, temos nossos instintos de luta, os quais
compreendem dispositivos de incentivo e recompensa pela sensação emocional e
mesmo fisiológica de satisfação cada vez que vencemos, quer pela luta, quer
pela fuga (a fuga também é uma forma de vitória, já que o animal conseguiu
vencer na corrida ou na estratégia de fuga; e seu predador foi derrotado, uma
vez que não o conseguiu alcançar).
Numa situação de perigo, o instinto ordena lutar ou fugir.
Quando acatamos essa necessidade psico-orgânica, o resultado na maior parte das
vezes, é a saúde e a satisfação que se instala no estágio posterior.
Se não é possível fugir nem lutar, desencadeiam-se estados
de stress que conduzem a um leque de distúrbios fisiológicos diversos. Isto
tudo já foi exaustivamente estudado em laboratório e divulgado noutras obras.
O que introduzimos na teoria da Síndrome da Felicidade é a
descoberta de um fenômeno quase inverso ao que foi descrito e que os pesquisadores
ainda não situaram a contento. Trata-se daquela circunstância mais ou menos
duradoura na qual não há necessidade de lutar nem de fugir porque está tudo
bem. Bem demais, por tempo demais.
Isso geralmente acontece com maior incidência nos países de
grande segurança social e numa proporção assustadora nas famílias mais
abastadas.
O dispositivo de premiação com a sensação de vitória, sua
consequente euforia e auto-valorização por ter vencido na luta ou na fuga, tal
dispositivo em algumas pessoas não é acionado com a frequência necessária. Como
consequência o animal sente falta – afinal é um mecanismo que existe para ser
usado, mas não o está sendo – e, então, ele cai em depressão.
Se quisermos considerar o lado fisiológico do fenômeno,
podemos atribuir a depressão à falta de um hormônio, ainda não descoberto
cientificamente, que denominei endoestimulina, e que o organismo pára de
segregar se não precisa lutar nem fugir por um período mais ou menos longo,
variável de uma pessoa para outra.
O cachorro doméstico entra em depressão, mas não sabe por
quê. A dona do cãozinho também não sabe a causa da sua própria depressão, já
que o processo é inconsciente, porém, seu cérebro, mais sofisticado do que o do
cão, racionaliza, isto é, elabora uma justificativa e atribui sua profunda
insatisfação a causas irreais. Não adiantará satisfazer uma suposta carência,
imaginariamente responsável pela insatisfação ou depressão: outra surgirá em
seguida para lhe ocupar o lugar e permitir a continuidade da falsa justificativa.
O exemplo acima poderia ser com pessoas de ambos os sexos e todas as idades,
mas, para ocorrer, é preciso que a pessoa seja feliz. Feliz demais, por tempo
demais.
Resumindo: se está tudo bem, bem demais, por tempo demais, o
indivíduo começa a sentir infelicidade por falta do estímulo de
perigo-luta-e-recompensa. Como isso ocorre em nível do inconsciente, a pessoa
tenta justificar sua infelicidade, atribuindo-a a coisas que não teriam o
mínimo efeito depressivo em alguém que estivesse lutando contra a adversidade."
*Leia mais no livro
Tratado de Yôga do DeRose
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