A intensificação voluntária do ritmo respiratório para além da demanda metabólica provoca, geralmente, uma série de reações. As duas mais comuns são manifestações emocionais intensas e uma variedade de sintomas físicos cujas características examinaremos mais adiante. Os motivos e o significado psicodinâmico destas reações foram abordados no texto A restauração do sistema emocional. Examinaremos aqui os mecanismos fisiológicos subjacentes, até onde são compreendidos atualmente.
Um aspecto interessante do fenômeno, principalmente devido ao seu potencial terapêutico inerente, é que a vasoconstrição cerebral conseqüente à hipocapnia é diferenciada, isto é, algumas áreas são mais afetadas por ela, enquanto outras o são menos, ou nada. É compreensível que aquelas estruturas responsáveis pela manutenção das funções vitais, por exemplo, sejam mais resistentes a flutuações potencialmente prejudiciais. Já as áreas corticais, menos importantes para a sobrevivência imediata, podem ser mais facilmente afetadas sem risco para o organismo. Enfim, as oscilações hemodinâmicas derivadas da hipocapnia levam a uma modificação do funcionamento das estruturas cerebrais. Esta modificação leva a uma substituição da integração cortical pela diencefálico-estriada, isto é, os mecanismos corticais de controle encontram-se temporariamente atenuados em favor dos diencefálicos. Em pesquisa realizada na Rússia sobre os efeitos fisiológicos de técnicas respiratórias utilizadas com objetivos terapêuticos, os dados experimentais mostraram que as pessoas são capazes de manter, através do controle voluntário da respiração, o nível de hipocapnia necessário para induzir tal modificação do estado de consciência (Terekhin, 1996).
Essa modificação parece ser responsável pela ativação dos mecanismos endógenos que levam à restauração do equilíbrio emocional através das manifestações emocionais intensas que ocorrem com a aplicação das técnicas de respiração controlada utilizadas no workshop A conexão mente-corpo e em outros contextos terapêuticos. Estando os controles corticais temporariamente inibidos e as estruturas subcorticais liberadas, e ativadas, mecanismos endógenos de auto-regulagem entram em ação, processos emocionais incompletos são ativados e tendem a se completar autonomamente. Dito de outra forma, a pessoa vive o que precisa viver para se equilibrar, experienciando sentimentos que estavam bloqueados (bem como as memórias a eles associadas), de acordo com sua psicodinâmica específica, e os integra à consciência. Isomorficamente, no nível puramente biológico, isto significa que o organismo está eliminando a carga alostática.
José Maria Martins
in http://www.josemariamartins.com.br/index.php?option=com_content&view=article&catid=35:saude-emocional&id=60:sobre-a-fisiologia-da-hiperventilacao&Itemid=54
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